Oferecer um produto mais prático, mais saboroso, mais conveniente, mais acessível e até mais democrático. Esse era o objetivo inicial de Otto Guarnieri, sócio-fundador da Mais Mu, empresa cujo carro-chefe é a popular whey protein.
A qualidade e os demais atributos da linha de suplementos proteicos que começou a ser construída desde o início, em 2014, pareciam estar no caminho certo. O desafio maior acabou sendo ampliar os horizontes.
Para isso, a empresa de whey protein precisava, literalmente, ganhar musculatura. De cara, Guarnieri percebeu que empreender tem dois lados: tem a parte da “bênção” e tem a “responsabilidade”. Mas, com pouca experiência em gestão, o desafio era perenizar a Mais Mu. “Tem uma diferença em ser um produto que o mercado gosta e ser uma empresa sustentável no longo prazo”, admite.
No entanto, tudo o que era pensado pelos sócios para acelerar o crescimento da empresa batia na limitação financeira. Eles viam mais oportunidade do que o caixa permitia sonhar...
“Sempre lembro do que disse Sam Walton, fundador do Walmart: ‘Capital não é escasso, mas a visão sim’. Ou seja, quase sempre falta um time com uma visão capaz de atrair o capital como um ímã. A visão a gente tem, mas falta esse combustível”, justifica Guarnieri.
A meta era captar R$ 2 milhões para investir no crescimento e foi a partir dessa necessidade que eles passaram a estudar uma série de possibilidades de funding. “Mas é importante perceber que, nesse play book, tem de ver o que faz sentido para você. Porque as alternativas são muitas. A gente já era uma empresa com um certo tamanho e queria manter o controle do negócio no médio e longo prazos. Tínhamos ‘alergia’ à alta diluição”, conta.
Eles também não queriam vender a empresa, por isso descartaram serem financiados via fundos de investimento. A opção mais comum no mercado eram os fundos de venture capital, mas eles não precisavam de tanto dinheiro assim. Da mesma forma, o private equity parecia mais interessante a negócios maiores.
Restavam os investidores anjo, os chamados FFF (Family, Friends, Fools, ou family & friends) e duas modalidades menos conhecidas: o equity crowdfunding (financiamento coletivo) e o family office (quando uma família ou uma empresa familiar investe no negócio).
Foram por essas trilhas. Encontraram a plataforma de crowdfunding Cria e a empresa Grão, de venture capital ligada a um family office que investe em startups em estágio inicial no Brasil. Acabaram trazendo mais de 250 sócios via financiamento coletivo, somando por volta de R$ 3 milhões.
Para atrair os investidores, a Mais Mu escolheu o instrumento conhecido como “mútuo conversível”, que são papéis de dívida da empresa cuja promessa é se converterem em ações no futuro. O compromisso foi de quando o faturamento chegar a R$ 50 milhões ao ano, se transformar em uma sociedade anônima.
O plano de ação previu investir na criação de novos produtos, no time e em marketing. “Algumas coisas fluíram muito bem, como o desenvolvimento de produtos – o faturamento da empresa passou de R$ 10 milhões para mais de R$ 30 milhões ao ano, e deve chegar a R$ 50 milhões no próximo ano.”
Com um valor de mercado recalculado para R$ 60 milhões, neste ano a Mais Mu partiu para uma segunda rodada de captações. A meta era captar mais R$ 5 milhões para dar ainda mais agressividade ao plano de expansão.
Muito mais do que dinheiro
O modelo de captação de recursos ensejou muita proximidade com os investidores. Segundo Guarnieri, mensalmente a Mais Mu organiza uma reunião com representantes da Grão. O contato com o grupo gerado pela Cria é até mais frequente: a cada semana, o status da empresa é passado para o grupo; e semestralmente um webinar dá a eles mais detalhes da estratégia, do plano de crescimento e dos resultados.
É interessante observar que uma iniciativa como essa tem trazido resultados que extrapolam a ideia financeira. Segundo Guarnieri, investidores acabaram se tornando mentores dos sócios, alguns facilitaram o contato com empresas que já estão colaborando com a Mais Mu, e outros, ainda, têm ajudado a incrementar as vendas a partir da divulgação de cupons em suas próprias redes sociais.
Como lição, Guarnieri admite que teve muitas revelações.
“Tire de lado suas expectativas e descubra o que te deixa feliz no meio do processo. O mais importante é se expressar, ser você, na jornada”, sugere. “Por isso eu digo que, quando você empreende, o que você acha que vai te deixar feliz não é o que de fato vai te deixar feliz quando você está na jornada.”“A gente sempre projetou para o dia em que atingíssemos a meta do primeiro milhão em vendas, que faríamos uma festa. Quando esse dia chegou, na verdade, ficamos quase apáticos. Nossa felicidade, na verdade, era ter uma estratégia nova.”
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