Fazer o seu melhor hoje, com esperança e foco em dias melhores. É com este pensamento, de quem foi forjada no espírito acolhedor de um quarto de hotel, que Rafaela Ghisleni enfrentou o período mais incerto do novo coronavírus no Brasil. A diretora e proprietária do hotel Intercity Portofino , no centro de Florianópolis, contou ao Inspire , podcast da Zoho , como fez para superar o fechamento total do setor hoteleiro no início da pandemia em 2020.
A crise sanitária surgiu do hotel novinho em folha. A inauguração havia acontecido três meses antes e não poderia ter sido mais oportuna: às vésperas do Réveillon de 2019, após cinco anos de planejamento, obras e ajustes. Era o investimento e a realização de uma família de Gramado (RS) experiente e apaixonada pelo ramo hoteleiro. Era o sonho de ter seu próprio hotel agora no centro da capital catarinense.
Instalado em um dos destinos mais bacanas do Brasil e com 100% de ocupação nas Festas de Ano Novo, o Portofino foi um caso de sucesso dentro da rede Intercity. No primeiro mês, registrou 100% de ocupação. Esse mesmo desempenho durante todo o verão de 2020.
O promissor da era do futuro. #Só que não. Veio a pandemia, a quarentena, o lockdown, uma avalanche de cancelamentos e de contas para pagar. Em divulgação de março, um decreto estadual mandou trancar tudo.
Em pouquíssimos dias, a lotação dos 140 quartos caiu a zero. Desaceleração total nos negócios e todas as dúvidas possíveis. Desistir? Ou insistir?
O segredo foi não paralisar diante das incertezas e evitar que como dúvidas virassem dívidas. Um pouco de sangue frio e a cabeça no lugar ajudaram a construir um plano de ação conservador em busca da prioridade do negócio nos seis primeiros meses mais comuns.
Com caixa bem curto e o hotel fechado por 44 dias a partir de 18 de março, o plano foi acompanhado dia após dia, sempre com a visão de que o período seria longo, sim, mas passageiro.
A equipe foi otimizada. Manteve-se o mínimo necessário para a manutenção do hotel e para renegociar com fornecedores de insumos e serviços - devolver o que ficaria parado e cortar o que não seria aproveitado, como o sinal de TV a cabo. Sem receita, a gestão financeira teve de dar conta também das rescisões e pagamento das contas básicas. Tudo isso era indispensável e bastante racional.
Mas a vocação para a acolhida fez diferença. A união dos colaboradores foi fundamental para manter esse otimismo. Além do mais, o hotel tinha um diferencial: a aposta nos hóspedes de negócios e nos profissionais que continuaram se deslocando pelo país por força de suas atividades, como os aeronautas. O Portofino reabriu para eles em 1º de maio.
A demanda era baixíssima, mas o hotel não poderia se dar ao luxo de deixar de atender enquanto a maioria da concorrência se mantinha fechada. Os 3% de ocupação já eram muito melhor que zero e, mais do que isso, era uma forma de aprender a operar na pandemia ...
Segundo Rafaela, reabrir o hotel e ser uma opção de hospedagem em maio de 2020 era a oportunidade de conquistar clientes de outras redes. Muitos hóspedes hóspedes que procuraram o hotel eram os CEOs e proprietários de suas empresas e pediam as melhores suítes.
O resultado de tamanha resiliência? “Sobrevivemos”, comemora Rafaela. “Na pandemia, transformamos nossa operação. Agora, estamos trabalhando mais uma vez para reinventar a hotelaria ”, completa.
Uma das descobertas nesses tempos sombrios foi em relação ao desperdício de energia e dinheiro mobilizados em estoques desnecessários. Rafaela diz que o hotel fechado escancarou o quanto se costuma acumular de recursos sem serventia. Estão aí como habilidades de planejar e gerir bem.
Evidente que, em um momento de crise, uma agilidade para planejar e decidir rápido ou que fazer, sem entrar em desespero ou se deixar levar pelo medo, foi uma grande lição para “sobreviver”. Mas a paixão pela hotelaria e a coragem de não desistir da condução desse barco em meio à tempestade forte o poder que tem alguém que, apesar de tudo, consegue desfrutar de uma boa estada.
Comments